Em escalada de pressão sobre Davi Alcolumbre, presidente do PL articula 'obstrução total' como arma para pautas do partido, gerando ...
Em escalada de pressão sobre Davi Alcolumbre, presidente do PL articula 'obstrução total' como arma para pautas do partido, gerando crise institucional e revelando uma estratégia que, segundo analistas, prioriza a anistia em detrimento da governabilidade do país.
Por Jardel Cassimiro, para o Portal São Miguel Web
BRASÍLIA, DF – O verniz da negociação política em Brasília rachou nesta sexta-feira (19), expondo uma tática de pressão explícita que coloca o funcionamento do Senado Federal como refém dos interesses de um partido. Em uma série de declarações contundentes, Valdemar Costa Neto, presidente do Partido Liberal (PL), subiu o tom contra o senador Davi Alcolumbre (União-AP), ameaçando paralisar a Casa Legislativa caso suas pautas — com a anistia a aliados políticos como pano de fundo — não avancem.
A ofensiva de Valdemar foi disparada em duas frentes. Em entrevista à Folha de S. Paulo, ele não mediu palavras ao detalhar sua estratégia de coação. “Temos uma arma. A única coisa que podemos fazer dentro da lei é a obstrução. Temos número para parar o Senado. Não queremos porque prejudica o país, mas temos 45 senadores para isso”, afirmou, quantificando a força de sua bancada e de aliados, e deixando claro que o prejuízo à nação é um dano colateral aceitável.
Conforme analisou a jornalista Natuza Nery, durante o programa #Edição18, da GloboNews, a chamada “obstrução total” é a tática mais radical do regimento. Significa utilizar todos os recursos para travar qualquer votação, desde propostas de emenda à Constituição a projetos de lei ordinários, independentemente de sua relevância para a sociedade. É, na prática, colocar uma mordaça no processo legislativo.
O alvo da fúria de Valdemar é Davi Alcolumbre, presidente da comissão mais importante do Congresso, a de Constituição e Justiça (CCJ). É na CCJ que propostas como a da anistia precisam ser pautadas para terem qualquer chance de prosperar. Em outra entrevista, à rádio Itatiaia, a ameaça de Valdemar assumiu um tom quase pessoal. “Davi Alcolumbre não trabalha para nós. Não trabalha para o Senado, mas vai pagar caro por causa disso. Vai pagar caro se ele não se comportar como tem que se comportar”, disse, em uma cobrança pública que beira a intimidação.
A assessoria de Alcolumbre, por sua vez, adotou o silêncio estratégico, informando que o senador não se manifestará “até segunda ordem”. É a resposta de um político experiente que entende que o peso das palavras de Valdemar se mede pela reação que elas provocam — ou pela falta dela.
Para analistas políticos, a gravidade das declarações reside em dois pontos. O primeiro é o conteúdo explícito da ameaça, que transforma a obstrução, um instrumento legítimo de minoria, em uma arma de chantagem da maior bancada da Casa. O segundo, e talvez mais revelador, é a naturalidade com que o presidente do PL admite colocar os interesses do país em segundo plano. Como destacou Natuza Nery, a fala expõe que a prioridade absoluta é uma pauta específica, a da anistia, e que, para alcançá-la, "às favas o país".
Este episódio remete a discursos anteriores de alas mais radicais do bolsonarismo, que já pregavam “parar tudo” como forma de pressionar as instituições. Reforça a percepção de que setores do PL e da oposição estão dispostos a "operar deliberadamente no caos", criando crises institucionais como ferramenta para alcançar seus objetivos políticos. A ameaça de Valdemar não é apenas um blefe; é a verbalização de uma estratégia que testa a resiliência das instituições e a capacidade de negociação do Senado, colocando em xeque a governabilidade em nome de uma anistia.
COMMENTS