Investigação apura a criação de perfis falsos e a possível manipulação de fotos retiradas de redes sociais, expondo a vulnerabilidade digi...
Investigação apura a criação de perfis falsos e a possível manipulação de fotos retiradas de redes sociais, expondo a vulnerabilidade digital e o rastro indelével da violência online.
Por Jardel Cassimiro, para a Revista Correio 101
A tranquilidade aparente do município de Feira Grande, no coração do Agreste alagoano, foi rompida por um pesadelo digital que expõe a fragilidade da privacidade na era da internet. Três jovens, com idades entre 18 e 19 anos, viram suas vidas devassadas ao descobrirem que fotografias pessoais, antes guardadas em seus arquivos de redes sociais, haviam sido publicadas sem qualquer consentimento em um site de conteúdo pornográfico. O caso, registrado em Boletins de Ocorrência na última segunda-feira (13), acendeu um alerta sobre a violência de gênero que transcende o espaço físico e encontra no ambiente virtual um terreno fértil e, muitas vezes, anônimo.
O que para as vítimas eram memórias arquivadas, transformou-se em material para alimentar uma plataforma de conteúdo adulto. Duas das jovens relataram às autoridades que, por volta das 13h de segunda-feira, foram informadas por terceiros sobre a presença de suas imagens no referido site. Eram três fotos antigas, originalmente postadas e depois arquivadas em seus perfis no Instagram, agora expostas em um contexto degradante e sexualizado. A suspeita de que as imagens possam ter sido digitalmente manipuladas adiciona uma camada ainda mais sombria ao crime.
Para a terceira vítima, o ataque foi ainda mais elaborado e invasivo. Às 10h da manhã do mesmo dia, ela descobriu não apenas a apropriação indevida de três fotos e um vídeo antigos, também retirados de suas redes sociais, mas a criação de um perfil falso em seu nome. A identidade virtual forjada no site adulto a apresentava como uma usuária ativa da plataforma, uma fraude que agrava a violação e o dano moral. Em seu depoimento, ela foi categórica: jamais criou qualquer tipo de perfil no site e nunca autorizou a divulgação de sua imagem.
O caso está sob a responsabilidade do 59º Distrito Policial de Feira Grande, com a investigação sendo conduzida pela delegada Maria Fernandes Porto. A Polícia Civil de Alagoas confirmou que as diligências já foram iniciadas, com o objetivo primordial de rastrear e identificar os responsáveis pela publicação e pela possível edição criminosa do material. A plataforma denunciada, que se destina a maiores de 18 anos, exige um login através de contas Google, e-mail ou outras redes sociais, um mecanismo que pode fornecer um ponto de partida para o rastreamento dos autores do crime.
Em nota, a instituição reforçou que a pornografia não consentida é um crime previsto em lei e que a disseminação de imagens íntimas sem autorização pode levar a severas penalidades. Este tipo de crime, popularmente conhecido como "pornografia de vingança", mas que abrange um espectro muito maior de situações, é tipificado no Código Penal brasileiro, especialmente após a sanção da Lei nº 13.718/2018. A legislação visa proteger a dignidade e a intimidade das vítimas, prevendo penas de reclusão para quem produz, fotografa, filma ou registra conteúdo íntimo sem permissão, bem como para quem o divulga.
A Polícia Civil orienta que qualquer pessoa que seja vítima de um crime semelhante não hesite em procurar a delegacia mais próxima para registrar a denúncia. A formalização do Boletim de Ocorrência é o passo fundamental para que a investigação possa ser iniciada e para que as autoridades possam tomar as medidas cabíveis para a remoção do conteúdo e a punição dos culpados.
Enquanto a investigação avança, para as três jovens de Feira Grande, ficam as cicatrizes de uma violência silenciosa, mas de impacto avassalador. O episódio serve como um duro lembrete de que, na internet, a linha entre o público e o privado é tênue e que a segurança digital é uma trincheira na luta diária pela própria dignidade.
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