Pela quinta vez, deputado e vereador do PL acompanham ação contra ligações clandestinas na Fazenda Laranjal, em Arapiraca, expondo o abismo ...
Pela quinta vez, deputado e vereador do PL acompanham ação contra ligações clandestinas na Fazenda Laranjal, em Arapiraca, expondo o abismo social e ideológico que eletrifica o debate sobre a reforma agrária em Alagoas.
Por Jardel Cassimiro, para a Revista Correio 101
Arapiraca, AL – A poeira que se levanta nas estradas de barro da Fazenda Laranjal, em Arapiraca, testemunhou nesta segunda-feira (13) mais um capítulo do longo e tenso confronto que define a paisagem agrária e política de Alagoas. De um lado, os trabalhadores rurais sem-terra, vivendo em barracos de lona sob a incerteza da posse da terra. Do outro, o poder político e a lei, personificados na figura do Deputado Estadual Cabo Bebeto e do vereador por Arapiraca, Vavazinho, ambos do Partido Liberal (PL). O campo de batalha, desta vez, não era a terra em si, mas os fios elétricos que a sobrevoam.
Pela quinta vez, os parlamentares se deslocaram até o acampamento do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) para um propósito específico: acompanhar e dar visibilidade ao corte de ligações clandestinas de energia, popularmente conhecidas como "gatos". A ação, que poderia ser tratada como um procedimento técnico rotineiro da concessionária de energia, foi convertida em um ato de manifesto político, uma declaração pública de posições que são, em sua essência, irreconciliáveis.
Em meio aos postes improvisados e à fiação precária que serpenteia pelo acampamento, Cabo Bebeto não mediu palavras para enquadrar a situação dentro de sua conhecida plataforma de lei e ordem. "Eu não gosto de ladrão e sou contra quem rouba energia", afirmou o deputado, com a assertividade que o caracteriza. A frase, curta e direta, ecoou pelo local, destinada não apenas aos acampados, mas principalmente à sua base eleitoral e à opinião pública. Ele prometeu seguir vigilante e atuante: "Seguirei denunciando enquanto houver irregularidades no fornecimento".
Para além da questão legal do furto de energia, a repetição metódica dessas visitas revela uma estratégia política calculada. Ao focar no "gato", Cabo Bebeto e seus aliados isolam um sintoma e o tratam como a doença inteira. A irregularidade na conexão elétrica torna-se uma metáfora para a própria ocupação, enquadrando os membros do MST não como sujeitos de uma luta social por moradia e trabalho, mas simplesmente como transgressores da lei.
A cena na Fazenda Laranjal expõe um drama social profundo. Para as famílias que ali vivem, em condições de extrema vulnerabilidade e sem acesso a serviços básicos, a ligação clandestina é, frequentemente, a única alternativa para iluminar a noite, conservar o mínimo de alimento ou carregar um aparelho celular. É uma questão de sobrevivência que esbarra, inevitavelmente, na ilegalidade.
O impasse na Fazenda Laranjal, portanto, é muito mais do que uma disputa por quilowatts. É o choque entre o direito à propriedade e o direito à dignidade; entre a aplicação fria da lei e as urgências humanitárias de quem vive à margem. Cada visita dos parlamentares, cada fio cortado, cada declaração à imprensa serve para eletrificar ainda mais um ambiente já saturado de tensão, deixando claro que, em Arapiraca, a luta pela terra é também uma luta por luz, e a paz ainda parece uma miragem distante no horizonte do agreste alagoano.
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